Ao longo de uma conversa franca e cheia de exemplos práticos, Paulo Veiga desmistificou o papel da digitalização no tecido empresarial e lançou um alerta: “Não há alternativa. Hoje, não há negócio sem digital”. Com a autoridade de quem viu a transformação do setor desde a custódia física de documentos até ao desenvolvimento de software em regime SaaS (Software as a Service), o CEO da EAD mostrou como a inovação tecnológica só faz sentido quando colocada ao serviço das pessoas.
A importância de errar menos
“Começámos por guardar papel, agora ajudamos os clientes a errar menos”, resume Paulo Veiga. A missão da EAD é melhorar a eficiência e a eficácia nos processos administrativos, sejam de backoffice ou frontoffice. E a transformação digital não é exclusiva das grandes empresas. Para o CEO da EAD, a ideia de que a digitalização é apenas para multinacionais “é um erro”. “As obrigações legais são transversais. E um documento perdido pode custar milhões”, reforça.
Digitalização: brutal vs. abrupta
Durante a pandemia, muitas organizações fizeram o que Paulo Veiga apelida de “digitalização abrupta”: passaram o papel para PDF e enviaram por e-mail, achando que isso era transformação digital. “Zero. Isso é erro. Digitalizar à bruta é como tapar buracos com fita cola.” Para o gestor, é preciso “digitalizar de forma brutal”, com diagnóstico, estratégia, ferramentas adequadas e, sobretudo, com as pessoas no centro. “É o triângulo das Bermudas dos processos: pessoas, tecnologia e organização. É aí que muitos se perdem.”
O software como diferencial competitivo
A EAD decidiu desenvolver o seu próprio software quando percebeu que as soluções disponíveis no mercado não respondiam às suas necessidades nem às dos clientes. Criou a Finprisma, empresa tecnológica do grupo, que hoje fatura mais de um milhão de euros. “Temos 30 técnicos especializados e conseguimos implementar uma solução de gestão documental em duas horas”, afirma. O modelo SaaS permite agilidade e personalização, integrando-se com os sistemas dos clientes por API, web services ou métodos mais convencionais como FTP.
Segurança: uma batalha constante
A EAD gere 300 terabytes de dados empresariais. A responsabilidade é imensa e os ataques cibernéticos são constantes. “Nunca estamos seguros. Primeiro vem o ataque, depois a defesa”, admite Paulo Veiga. A empresa está certificada na norma ISO/IEC 27001 e investe em auditorias externas, testes de penetração e políticas de cibersegurança rigorosas. Mas nem todos os clientes percebem o custo dessa proteção. “Há quem peça seguros de 50 milhões de euros para contratos de 20 mil. Isso não é viável.”
Sustentabilidade com pragmatismo
Apesar de a digitalização reduzir a dependência do papel, Paulo Veiga recusa o discurso simplista do “não imprima, pense no ambiente”. “O papel é um dos resíduos mais recicláveis do planeta. A verdadeira destruição da floresta está no imobiliário, não nos eucaliptos.” A EAD destrói anualmente quatro mil toneladas de papel, encaminhadas para reciclagem e integradas na economia circular. Mais importante ainda, obriga as empresas a regularizar a sua posição na plataforma de gestão de resíduos da APA, promovendo responsabilidade ambiental.
O futuro da EAD passa por consolidar a sua liderança na Península Ibérica, onde já possui duas empresas em Espanha. Mas a visão vai além da geografia: “A inteligência artificial é importante, mas o critério humano é insubstituível. Apostamos nas pessoas. São elas que fazem a diferença.” Com uma equipa de 400 colaboradores, a empresa combina tecnologia e talento para oferecer serviços de BPO (Business Process Outsourcing) com um elevado grau de personalização.
Para as empresas que continuam presas a processos manuais, o conselho de Paulo Veiga é direto: “Se ainda não iniciaram a transformação digital, já vão tarde. Têm de correr. Mas mais do que correr, é saber para onde. E é aí que nós entramos.”