Esperança nos profissionais de sistemas de informação

Ao contrário da visão tecnocêntrica, a visão sociotécnica reconhece que a tecnologia não opera no vácuo. A adoção desta visão mais abrangente é urgente para garantir que a tecnologia de informação seja uma aliada no desenvolvimento da sociedade, das empresas e no bem-estar das pessoas.
21 de Maio, 2025

Uma visão meramente técnica da Informática tem prevalecido ao longo dos anos. Sabemos que a tecnologia tem tido um papel revelante na evolução da sociedade – das sociedades agrícolas às sociedades industriais e de forma cada vez mais evidente na atual era digital. No entanto, o contributo das tecnologias de informação para a evolução da sociedade não se mede em capacidade de processamento nem de armazenamento, mas sim através de indicadores de inovação e de bem-estar, económicos e sociais. Quando adotamos uma visão tecnocêntrica, os aspetos pessoais e sociais do uso de tecnologias são negligenciados, ignorando problemas recorrentes e cada vez mais preocupantes.

Recentemente ferramentas digitais como as redes sociais ou a inteligência artificial generativa têm provocado efeitos nefastos quer para as pessoas, as empresas e a sociedade em geral. Uma visão tecnocêntrica destas ferramentas preocupa-se exclusivamente com o aumento dos utilizadores e da automação, através da confiança em algoritmos cada vez mais potentes. Consequentemente, a razão da existência destes sistemas reduz-se assim a métricas de velocidade de processamento, de capacidade de armazenamento e de eficiência algorítmica. A discussão e a ponderação do verdadeiro valor que estas ferramentas podem gerar não cabem dentro desta visão técnica da Informática.

A transição para uma perspetiva sociotécnica da Informática é, portanto, fundamental para o sucesso organizacional e social na era digital. Os profissionais de Sistemas de Informação (SI) são os únicos capazes de orquestrar esta mudança ao integrar os aspetos sociais, organizacionais, e técnicos no desenho de sistemas centrados nas necessidades humanas. Os profissionais de SI têm um perfil pluridisciplinar, tendo conhecimento de aspetos culturais e legais, de negócio, de infraestrutura, de segurança de dados e de tecnologias de informação, o que lhes permite definir políticas e praticas de governança para o desenvolvimento e a utilização de sistemas de informação. Deste modo, são agentes relevantes para impedir o uso indevido de sistemas de inteligência artificial e colaborativos, garantir a segurança na utilização de dados e assegurar a transparência algorítmica, dando respostas robustas aos problemas concretos com que hoje nos confrontamos.

Ao contrário da visão tecnocêntrica, a visão sociotécnica reconhece que a tecnologia não opera no vácuo. A adoção desta visão mais abrangente é urgente para garantir que a tecnologia de informação seja uma aliada no desenvolvimento da sociedade, das empresas e no bem-estar das pessoas.

Filomena Lopes é Professora Associada na Universidade Portucalense

Opinião