A transição não é subtil. A Microsoft quer que deixemos de ver a IA como simples assistente e passemos a encará-la como agente. Ou seja, entidades digitais com capacidade para compreender contexto, tomar decisões, executar tarefas e interagir com outras entidades — tudo de forma contínua e autónoma.
É uma mudança de paradigma: de ferramentas que auxiliam, para agentes que agem. E a Microsoft está a posicionar-se no epicentro desta transformação.
Frank X. Shaw, Chief Communications Officer da Microsoft, descreve esta nova vaga como alimentada por “avanços pioneiros em raciocínio e memória”. Os resultados estão à vista: o GitHub Copilot, agora com mais de 15 milhões de utilizadores, evolui de assistente de codificação para um agente programador assíncrono com iniciativa própria. No universo empresarial, o Microsoft 365 Copilot já opera como extensão cognitiva de milhares de profissionais.
Fujitsu, NTT DATA ou o Stanford Health Care são exemplos do impacto silencioso, mas profundo, dos novos agentes. Desde a priorização de leads até à preparação de reuniões clínicas, a IA está a deixar de ser apenas uma promessa e começa a ser um motor operativo invisível — sempre ligado, sempre ativo.
Neste novo ecossistema, o Azure AI Foundry surge como uma plataforma estratégica. Reúne modelos de IA, ferramentas de avaliação, governação e agora também um Agent Service com suporte para orquestração multi-agente, comunicação entre agentes (A2A) e protocolos abertos como o Model Context Protocol (MCP).
GitHub e Windows como plataformas de IA
O GitHub Copilot dá agora um passo ousado: transforma-se numa plataforma aberta. A sua integração nativa com o VS Code passa a ser open source, sinal claro de que a Microsoft vê o desenvolvimento colaborativo como essencial para escalar a IA.
Do lado do cliente, o Windows AI Foundry oferece uma estrutura local para treinar, testar e implementar LLMs diretamente no dispositivo, algo que pode acelerar o desenvolvimento de aplicações com privacidade reforçada.
Mas a ambição vai mais longe. A Microsoft quer reestruturar a própria internet para suportar interações entre agentes. Para isso, está a introduzir o NLWeb — um novo protocolo que permite aos websites disponibilizar os seus conteúdos de forma semanticamente acessível a agentes de IA. Cada ponto final NLWeb é também um servidor MCP, transformando páginas web em hubs conversacionais.
Este movimento tem paralelos claros com os primórdios da web, quando o HTML permitiu a interoperabilidade de conteúdos entre navegadores. Desta vez, a interoperabilidade será entre agentes.
Na fronteira da investigação, a Microsoft Discovery pretende ser o catalisador de uma nova abordagem à ciência, substituindo ciclos morosos de pesquisa por processos dinâmicos mediados por agentes. A promessa? Reduzir o tempo entre hipótese e descoberta, com impacto direto na saúde, sustentabilidade e inovação industrial.
Uma aposta estratégica na governação
Com tantos agentes em operação, surge uma preocupação inevitável: como controlar o crescimento e comportamento destes sistemas? A Microsoft responde com o Entra Agent ID — identidades únicas para agentes, integradas nos diretórios empresariais, com capacidades de monitorização, segurança de dados e controlo de conformidade integrados.
O Microsoft Build 2025 não é apenas um anúncio de produtos. É uma declaração de intenções: a IA vai deixar de ser uma aplicação que usamos para passar a ser uma estrutura que nos representa. Na visão da Microsoft, o futuro não é feito de aplicações, mas de agentes. E esse futuro começa agora.
Se a empresa conseguir transformar esta visão em prática operacional, podemos estar perante a reconstrução silenciosa da internet como a conhecemos.