Operadora espanhola MasOrange escolhe a Huawei para lançar rede 5,5G em Espanha, desafiando veto ocidental

Operador estreia tecnologia 5G Advanced com apoio da gigante chinesa, numa parceria que reacende o debate geopolítico em torno das redes móveis.
13 de Maio, 2025

A MasOrange, operadora resultante da fusão entre a MásMóvil e a Orange em Espanha, iniciou em Sevilha o lançamento da sua rede 5G Advanced — também conhecida como 5,5G —, numa iniciativa que pretende posicionar o país na linha da frente da próxima vaga tecnológica europeia. Mais do que um avanço técnico, o projeto tem implicações políticas significativas: o parceiro tecnológico escolhido para a empreitada é a Huawei, fabricante chinês banido dos mercados norte-americano e, em grande parte, do europeu por razões de segurança.

“A rede 5G Advanced que a operadora espanhola está a implementar vai permitir desenvolver casos de uso reais no contexto do projeto eCity Sevilha, envolvendo já empresas e a Universidade de Sevilha” afirmou Meinrad Spenger, CEO da MasOrange, a imprensa espanhola.

Esta nova geração de rede móvel representa um passo intermédio entre o 5G atual e o futuro 6G, prometendo melhorias significativas em velocidade, latência, eficiência energética e capacidade de conexão massiva. O projeto em Sevilha recorre a espectro de 26 GHz e 140 MHz na banda dos 3,5 GHz — a maior alocação deste tipo entre operadores espanhóis —, conjugando bandas médias e baixas para ampliar a cobertura e a qualidade da rede.

Com o 5G Advanced, os utilizadores poderão experienciar chamadas de voz enriquecidas (5G New Calling), latência ultrabaixa para aplicações críticas em tempo real, e novas experiências imersivas, como videoconferências com hologramas e jogos de realidade aumentada em cloud. No plano industrial, as possibilidades são ainda mais amplas: desde a telemedicina à gestão de frotas autónomas, passando pela agricultura de precisão, logística inteligente e cidades conectadas.

Uma das funcionalidades emblemáticas desta nova geração é o chamado “sensing”, a capacidade da rede para detetar e localizar objetos com uma precisão inferior a 10 centímetros, sem necessidade de sensores físicos adicionais. Aplicações incluem a monitorização de tráfego sem câmaras, rastreamento de equipamentos industriais e apoio a veículos autónomos.

O envolvimento da Huawei, apesar das sanções e alertas de segurança dos Estados Unidos e da Comissão Europeia, coloca a MasOrange numa posição sensível. A operadora optou por reforçar os laços com um fornecedor que muitos governos ocidentais consideram um risco geoestratégico. A decisão contrasta com a tendência seguida por outras grandes operadoras europeias, que vêm progressivamente afastando-se de fornecedores chineses na infraestrutura de rede crítica.

Aos jornalistas espanhóis o CEO da MasOrange não disse nada sobre a eventual polémica, não contribuindo diretamente para ela, mas a escolha da Huawei sugere uma aposta na relação qualidade-preço, bem como na capacidade técnica da empresa para fornecer equipamentos de ponta nesta fase de transição tecnológica. A Huawei, por seu lado, tem procurado reposicionar-se como parceiro indispensável para a inovação em telecomunicações, oferecendo soluções que desafiam o isolamento político a que tem sido sujeita.

Espanha como laboratório de inovação

O lançamento em Sevilha poderá servir de ensaio para uma eventual expansão da rede 5,5G a nível nacional. A cidade andaluza, graças à sua aposta estratégica no projeto eCity e à colaboração entre setor público, universidades e empresas privadas, está a afirmar-se como campo de testes para a próxima geração digital.

Com o 5G Advanced, Espanha tenta acelerar a sua transição para uma economia digital mais competitiva. Contudo, a colaboração com a Huawei levanta questões de longo prazo sobre soberania tecnológica, dependência de fornecedores e alinhamento com os parceiros europeus.

Num momento em que a União Europeia se prepara para definir as bases do futuro 6G, a decisão da MasOrange poderá ser vista tanto como um risco calculado como um sinal de pragmatismo económico. O que é certo é que a rede agora inaugurada representa mais do que um simples avanço técnico — é um novo capítulo na complexa relação entre inovação, segurança e geopolítica.

Benefícios práticos: da experiência do utilizador 5G Advanced

A tecnologia 5G Advanced traz um leque alargado de benefícios concretos tanto para consumidores finais como para empresas. Entre as principais vantagens destacam-se:

  • Velocidade de ligação superior: downloads e uploads significativamente mais rápidos do que com o 5G convencional, permitindo ver vídeos em alta resolução sem interrupções e transferir ficheiros pesados em segundos.
  • Latência reduzida: ideal para jogos online, chamadas de vídeo e aplicações em tempo real, com ganhos em fluidez e fiabilidade.
  • Conectividade simultânea robusta: capacidade para ligar um maior número de dispositivos sem comprometer a qualidade da rede, mesmo em zonas densamente povoadas.
  • Eficiência energética: prolonga a autonomia de baterias em dispositivos móveis e wearables, contribuindo para uma utilização mais sustentável.
  • Cobertura urbana melhorada: sinal mais estável em interiores e áreas metropolitanas, respondendo às exigências das cidades inteligentes.
  • Qualidade de voz elevada (5G New Calling): áudio mais nítido, menor atraso nas chamadas e integração de funcionalidades multimédia como partilha de ecrã e vídeo em direto durante a conversa.
  • Experiências imersivas de nova geração: chamadas holográficas em 3D, jogos em realidade aumentada na nuvem e provadores virtuais a partir do telemóvel.

No mundo profissional, o 5G Advanced abre novas fronteiras:

  • Saúde e telemedicina: monitorização remota de pacientes, cirurgias à distância e dispositivos médicos sempre conectados.
  • Transporte e mobilidade: diagnóstico remoto de viaturas, gestão de frotas autónomas e deteção antecipada de obstáculos para maior segurança.
  • Cidades inteligentes: gestão do tráfego sem câmaras, controlo inteligente do alumbrado público e otimização de serviços municipais.
  • Indústria 4.0: sensores para manutenção preditiva, controlo remoto de máquinas e automação de processos para ganhos de eficiência.
  • Logística e distribuição: rastreamento em tempo real de encomendas, armazéns inteligentes e entregas com veículos autónomos.
  • Defesa e segurança: vigilância com drones e câmaras de baixo consumo, deteção de intrusões em zonas sensíveis.
  • Agricultura de precisão: sensores para medir humidade, qualidade do solo e crescimento das culturas em tempo real.
  • Media e entretenimento: transmissões ao vivo com latência mínima e alta qualidade, produção remota de conteúdos audiovisuais.

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